sábado, 1 de maio de 2010

Aquilo que o mundo me pede não é o que o mundo me dá!!!


Esse texto fomenta trazer uma discussão em cima de uma problemática que vem tomando conta de nossa sociedade: a marginalização das pessoas na realidade brasileira acontece de forma externa onde nos isentamos da culpa, mas será que não temos o nosso papel na formação dos marginais?(entenda por marginalização o processo de relegar ou confinar a uma condição social inferior da sociedade).


Devemos tomar uma posição crítica acerca da realidade social brasileira. A invisibilidade social de algumas pessoas, a exemplo de um jovem pedinte, faz com que nos revoltemos por um período de tempo muito curto (esquecemos fácil que essa é a realidade) e virarmos a cara para não ver a situação como se isso nos afastasse da verdade. Entendemos que essa situação deveria ser mudada, entretanto não fazemos nada para mudar! O que adianta esperarmos e termos fé que o mundo vai mudar sem lutarmos para realizar a mudança?


Outro ponto que queria falar traz um debate muito mais profundo onde devemos questionar a marginalização daqueles que são infratores da lei a partir de uma visão um pouco mais crítica. Boa parte das pessoas e muitos de vocês que estão lendo esse texto já sentiram vontade de bater em um ladrão, ou de espancar um estuprador, de matar um assassino (Nem preciso citar o caso Nardoni), ou de simplesmente coisiicar ou animalizar aqueles infratores da lei, mas alguém já procurou entender quais os aspectos sociais e educacionais que levam uma pessoa a tomar tais atitudes de violência para com a sociedade? Muitos irão dizer imediatamente que eu estou falando isso por não ter passado por uma situação em que o “sangue tenha subido a cabeça”, contudo eu não me insulo de tais “vontades”. Alguém já pensou que a culpa de existirem os “marginais” é nossa? Você já analisou o quanto contribui para o surgimento de mais e mais infratores?


Meu papel mais uma vez é de deixar a provocação para vocês questionarem e para isso tomarei alguns exemplos para tentar esclarecer minha real intenção quando falo em pararmos para analisar qual o nosso papel na formação dos marginais:



  • O menor abandonado

Produto social da infração do Art. 227 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 o qual diz:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.


Será que estamos cumprindo o nosso papel? Estamos garantindo tais direitos? Se não me engano o que estamos fazendo é exatamente o oposto. Somos condizentes com a situação social em que eles vivem e muitas vezes usamos de discriminação e violência para com esses desassistidos. Nossa postura no dia a dia, e não quero dizer com isso que seja uma postura de todos é claro, vai de encontro a tudo o que pregamos ser moral. Diante de um jovem pedindo esmola no sinal, poucos ajudam com uma quantia em dinheiro e dizem que é o máximo que pode ser feito, alguns contribuem com por medo da reação daquela criança caso não consiga dinheiro pra COMER, e muitos repudiam o pedinte como se fosse uma doença contagiosa que não deve nem chegar perto. Vejam no que estamos nos transformando, vejam que mesmo os que ajudam acham que a situação é imutável e que é papel apenas do poder estatal cuidar disso, encarem que qualquer um de nós pode vir a passar por uma situação dessas onde roubaremos para comer, para beber e principalmente para sobreviver. O ser humano em condição subumana perde o controle sobre si mesmo e o que “fala mais alto” é o instinto de sobrevivência.


  • O infrator

Salvo algumas exceções, a grande maioria dos infratores da lei são aqueles desassistidos por nós e que vivem em uma condição socioeconômica muito precária e usam dos meios que lhes são viáveis para sobreviver. Como podemos cobrar uma “consciência social” de uma pessoa para qual o estado é inexistente, a mesma pessoa que não tem os direitos básicos previsto pelo artigo que citei acima e que sequer tem direito à vida.


Tenho certeza que alguns de imediato vão pensar: “Eles deveriam trabalhar ao invés de roubar” e a resposta pra isso é ainda mais revoltante: Hoje para conseguir emprego é preciso o mínimo de escolaridade, escolaridade essa que eles não têm acesso. Como podemos exigir um comportamento “ético e moral” se não existe quem ensine tais conceitos para eles? Queremos que uma pessoa que é tratada como um animal (e olhe que existe animal que possui mais direito que essas pessoas) quando o assunto é direito, se comporte como um ser humano quando o assunto for dever.


E alguns ainda vão perguntar: “e quanto aos assassinos qual a desculpa?” Posso parecer bem radical, mas se coloque no lugar deles e encare que ninguém está preocupado com a sua vida quando lhe negam o acesso à alimentação, o estado só se faz presente para essas pessoas por meio da violência do nosso sistema policial (que é bastante falho e completamente racista) e agora pense comigo: “Devo me preocupar com pessoas que enxergam em mim um ônus a segurança social e querem que eu garanta a sua vida quando não garante a minha?”


Não estou dizendo com isso que tais atos estão certos, mas quero apenas dizer que entendo que tenho minha parcela de culpa nisso também.


Usando um pouco do meu lado da teoria da conspiração, já pensaram que o estado necessita da manutenção da violência para que possa usar da desculpa de que algumas decisões, muitas vezes que vão de encontro aos nossos desejos, são tomadas para garantir a segurança social, isso sem falar nas indústrias capitalistas de segurança que lucram cada vez mais com isso. Fazendo uma analogia ao texto que trouxe antes sobre prisões psicológicas, digo que a idéia dessa segurança tem o mesmo propósito de aprisionar psicologicamente o outro.


Entendam que esse é apenas um simples recorte de uma realidade muito mais complexa e maior a qual sequer enxergamos e como diz a música “Capítulo 4 Versículo 3” dos Racionais MC’s que acho muito interessante..


“MAS QUEM SOU EU PRA FALAR DE QUEM CHEIRA OU QUEM FUMA? NEM DÁ! NUNCA TE DEI PORRA NENHUMA!"


Clique aqui para ouvir a música!


Fotos :

1- Marginal Lives 139 by Ari A. Alves (alvesari) Copyright © 2004

2- Marginal Lives 131 by Ari A. Alves (alvesari) Copyright © 2004